Lembro-me claramente da vez em que acompanhei uma paciente após uma abdominoplastia: ela estava animada com a recuperação, mas no terceiro dia apresentou dor intensa e febre. Aquilo me marcou — não só pela tensão do momento, mas porque me lembrou que, por trás do desejo legítimo de mudar o corpo, existem riscos reais que precisam ser vistos com honestidade.
Neste artigo vou compartilhar o que aprendi em mais de uma década cobrindo e estudando cirurgia plástica: quais são os riscos da cirurgia plástica, por que ocorrem, como identificá‑los e — o mais importante — o que você pode fazer para minimizá‑los. Vou trazer exemplos práticos, explicações simples e referências confiáveis para você tomar decisões informadas.
Por que a cirurgia plástica tem riscos?
Cirurgia plástica combina técnica cirúrgica, anestesia e resposta biológica individual. Cada intervenção altera tecidos, vasos e sistemas do corpo; o resultado depende não só da habilidade do cirurgião, mas também das condições de saúde do paciente e do ambiente onde o procedimento é realizado.
Você já se perguntou por que duas pessoas com o mesmo procedimento têm resultados diferentes? A resposta está na interação entre técnica, infraestrutura, recuperação e fatores pessoais (tabagismo, doenças crônicas, medicação).
Principais riscos e complicações
A seguir, descrevo os riscos mais comuns e como eles costumam se manifestar.
1. Infecção
- Como aparece: vermelhidão progressiva, dor aumentada, secreção purulenta, febre.
- Por que ocorre: contaminação intraoperatória ou cuidados pós‑operatórios inadequados.
- Consequências: desde tratamento com antibiótico até reabertura de ferida ou remoção de prótese.
2. Sangramento, hematoma e seroma
- Hematoma: acúmulo de sangue que pode exigir drenagem cirúrgica.
- Seroma: acúmulo de líquido seroso que pode precisar de punção repetida.
- Prevenção: técnica cirúrgica cuidadosa, controle tensionamento e seguimento adequado.
3. Complicações anestésicas
Reações a anestesia geral ou local podem variar de náuseas até eventos mais graves (comprometimento respiratório, reações cardiovasculares). Avaliação pré‑anestésica é obrigatória para reduzir riscos.
4. Trombose venosa profunda (TVP) e embolia pulmonar
São complicações potencialmente fatais. Fatores de risco incluem imobilidade prolongada, histórico prévio, uso de anticoncepcionais ou terapia hormonal, obesidade e tabagismo.
5. Necrose e má cicatrização
Quando o suprimento sanguíneo ao tecido é comprometido, há risco de necrose (morte do tecido) e cicatrizes alargadas ou hipertróficas. Tabagismo e diabetes aumentam muito esse risco.
6. Reações a implantes e contratura capsular
Em cirurgias com próteses (mamoplastia, implantes faciais), pode haver rejeição, infecção associada ao implante ou formação de cápsula fibrosa rígida (contratura) que distorce o resultado.
7. Alterações sensoriais e paralisias
Lesões nervosas podem causar hiposensibilidade, dormência ou, raramente, paralisia temporária/permanente de músculos locais.
8. Resultado estético insatisfatório e impacto psicológico
Resultados aquém das expectativas podem levar a insatisfação, depressão e busca por revisões. Avaliação realista e suporte psicológico são essenciais.
Fatores que aumentam o risco
- Tabagismo (reduz perfusão e cicatrização).
- Doenças crônicas (diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares).
- Obesidade e sedentarismo.
- Uso de medicamentos anticoagulantes ou certos fitoterápicos sem orientação.
- Procedimentos realizados por profissionais sem qualificação adequada ou em locais sem estrutura.
- Cirurgias longas ou múltiplos procedimentos combinados em uma única sessão.
Como reduzir os riscos: checklist prático
Antes da cirurgia
- Escolha um cirurgião certificado por sociedades reconhecidas (ex.: Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica — SBCP).
- Verifique as instalações: centro cirúrgico autorizado, anestesista presente e infraestrutura para emergências.
- Faça avaliação pré‑operatória completa (exames laboratoriais, cardiológicos quando indicado).
- Comunique todos os medicamentos e suplementos que você usa.
- Pare de fumar pelo menos 4–6 semanas antes, se possível.
- Alinhe expectativas: peça fotos de casos semelhantes e tenha um plano para complicações.
No dia da cirurgia
- Siga orientações de jejum e medicamentos.
- Verifique identificação do profissional e consentimento informado assinado.
Pós‑operatório
- Siga o plano de retorno: curativos, drenagens, repouso e medicação conforme prescrito.
- Monitore sinais de infecção, sangramento intenso, falta de ar ou dor intensa e fora do esperado.
- Compareça a todas as consultas de revisão — muitas complicações são tratáveis quando detectadas cedo.
Quando procurar atendimento de emergência
- Febre persistente > 38°C associada a dor ou secreção.
- Sangramento ativo e aumento rápido do volume do local operado.
- Falta de ar, dor torácica, dor intensa nas pernas (sinais de trombose/embolia).
- Confusão, tontura intensa ou síncope.
Transparência: diferenças de opinião e limites do que sabemos
Há debate sobre, por exemplo, qual é o intervalo ideal entre cirurgias combinadas e a melhor abordagem para prevenção de TVP. Estudos variam e as recomendações se adaptam conforme novos dados. Por isso, siga um profissional atualizado e que baseie decisões em evidências.
Fontes confiáveis e estudos
Para aprofundar, consulte:
- Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP): https://www2.cirurgiaplastica.org.br/
- American Society of Plastic Surgeons (ASPS): https://www.plasticsurgery.org/
- Base de dados PubMed para estudos científicos: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/
Perguntas frequentes (FAQ)
1. A cirurgia plástica é segura?
Depende. Quando feita por profissionais qualificados, em ambiente adequado e com seleção correta do paciente, o risco é baixo. Mas “baixo” não é zero — é preciso estar ciente das possíveis complicações.
2. Qual o procedimento com maior risco?
Não há um único procedimento que sempre seja o mais arriscado. Risco depende da extensão da cirurgia, tempo de procedimento, condição clínica do paciente e infraestrutura. Procedimentos longos e múltiplos combinados tendem a ter maior risco.
3. Posso reduzir muito o risco se eu fizer tudo certo?
Sim — muitas medidas (parar de fumar, controle de doenças crônicas, escolha do cirurgião e do local) reduzem substancialmente o risco, mas não o eliminam por completo.
4. Como escolher um bom cirurgião?
Verifique certificações (ex.: SBCP no Brasil), formação, experiência em procedimentos específicos, portfólio de casos, avaliações e se a clínica tem estrutura para emergências.
Conclusão
Riscos da cirurgia plástica existem e são reais, mas não devem ser motivo para pânico — e sim para preparação. Entender as complicações possíveis, escolher profissionais e locais certificados, e seguir rigorosamente o pré e pós‑operatório são ações que fazem diferença no resultado e na segurança.
Resumo rápido: conheça os riscos (infecção, sangramento, trombose, necrose, complicações anestésicas), avalie fatores pessoais, escolha equipe e estrutura, e observe sinais de alerta para buscar ajuda precoce.
FAQ rápido: respondi às dúvidas mais comuns acima. Ainda ficou alguma pergunta? Leia as fontes recomendadas para aprofundar.
Uma palavra final: transformar o corpo pode transformar a autoestima, mas a responsabilidade por essa transformação é compartilhada—entre você, o cirurgião e a equipe. Planeje com cuidado e priorize sua saúde.
E você, qual foi sua maior dúvida ou dificuldade ao pensar em cirurgia plástica? Compartilhe sua experiência nos comentários abaixo!
Referências e leitura adicional: Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (https://www2.cirurgiaplastica.org.br/) e cobertura jornalística sobre segurança em cirurgias plásticas em portais como G1 (https://g1.globo.com/).